quinta-feira, 2 de junho de 2016

O tragicômico neste momento pode revelar dois limites das bases urbanas e universitárias do campo de esquerda. O primeiro é a incapacidade de produzir distinções políticas substantivas sobre o tipo de dominação política e econômica que as submetem. Por exemplo, apontar as distinções radicais entre o governo Temer e Dilma não é fundamental ao reconhecimento das diversidades e à construção de consensos que posicionem as bases de esquerda em termos revolucionários, radicais, emancipatórios, mas sobretudo possíveis. Portanto, falar sobre a natureza da nossa república e da coalização entre as elites e as lideranças políticas populistas possibilita uma crítica. Neste ponto, a crítica feminista e negra saltam justamente porque se posicionam para além da opinião pública das corporações de imprensa, ou seja, a indignação é produzida pela própria coletividade. O segundo limite é a falta de confiança e de inserção das pessoas nas instituições políticas que as representam. A cama de uma nova esquerda, de necessidade tão propagada, definitivamente não é uma opinião, ela demanda uma postura obreira em relação à causa, uma postura dialógica e paciente, além disso, deve carregar um questionamento subjetivo daqueles que buscam construí-la, ou seja, é preciso que haja um sentimento bom, uma identidade afetiva com a política, se não há, tais lugares devem ser criados. O desespero não pode nos deixar órfãos das nossas histórias cotidianas de resistência, da fertilidade delas, em desespero somos presas fáceis, histriônicos, facilmente sondados, sugeridos, bovinos. Desse jeito, nada pode prosperar.
O eixo central de Temer, como o mesmo não cansa de repetir, é a recuperação da economia. O país está no centro de uma tormenta. Empregos, investimentos, credibilidade, tudo derrete. No capitalismo que corre, as crises são uma ponte para aumentar a exploração do capital sobre a classe trabalhadora, inclusive desfigurando-a enquanto classe. Portanto, para sair deste buraco tome precarização, aumento de imposto e entrega do patrimônio público ao setor privado. Sem esquecer da velha repressão aos que não contribuírem para a retomada do crescimento do país, agora com a lei anti-terrorismo, um dos principais legados deste governo que finda. Depois que findar, haverá uma articulação dentro da própria esquerda que dirá que tudo seria diferente caso não findasse, mas não será verdade. Apesar das diferenças entre os programas, o pragmatismo de um governo de coalizão fará Temer aprovar justamente o que Dilma queria, mas o congresso não deixava, por exemplo, a CPMF e a reforma da previdência. Lembrar que Dilma já tinha começado o serviço, mexendo no seguro desemprego e nas concessões do pré-sal. Pois é, vamos mergulhar fundo na austeridade e no fascismo social. Na noite da crise - essa coisa mística, dogmática, incontornável, uma praga a purificar nossos pecados perdulários - todos os gatos são pardos, os vermelhos, os azuis, os verdes...
Atualmente o Sport beira a apatia e a opacidade. Anda baseando sua grandiosidade no dinheiro da Globo e na expectativa em títulos que não estão chegando. Neste sentido, a união de um clube não pode permitir que uma diretoria detone a mística de um time aguerrido, brigador, raçudo e de uma torcida apaixonada, orgulhosa e consciente do tamanho do seu clube. Em nome do combate ao crime, a diretoria do Sport comete um crime maior - algo bem comum em nossos tempos - ao ter uma postura puramente repressiva em relação às torcidas organizadas, uma postura draconiana, autoritária, banhada em elitismo e racismo. O crime é a transformação de uma torcida centenária, massiva e vitoriosa em algo morno, burocrático, desorientado e contido. A grandiosidade de um clube é a força de sua torcida, esteja onde estiver, como estiver. Ao buscar exterminar a maior torcida organizada do seu clube, exterminam-se os espíritos de doação e adoração, também a empatia, a simbiose entre os 11 e os milhões. Por gentileza, não venham em nome da ordem e da paz defender o fim das organizadas, seria este o maior problema do nosso futebol, das nossas cidades? A escolha do bode expiatório revela a natureza da nossa sociedade. A geral vai resistir. Pelo Sport tudo.
A especulação financeira coloniza a república. Os palpites sobre a formação do governo Temer, por exemplo, atende por Bolsa Ministro. A justiça, a educação, a saúde, a gestão das cidades são vendidas em pregões aos acionistas. Enquanto o PMDB pergunta: quem paga mais? As partes da coalizão buscam os mais rentáveis. Neste momento, parece que a força da opinião pública estacionou na certeza do impeachment de Dilma, daí verificamos a diferença entre as vozes da rua e o oligopólio da comunicação. A manobra de tomada está quase conclusa. De passagem, o palpite favorito para a cadeira de justiça é o atual Secretário de Segurança de São Paulo, Alexandre de Moraes, o canino de Alckmin para morder estudante, militante e pobre. Ele é acusado de ter relações com o PCC, já fechou acordo com o PCC, diga lá.
Não é viável pensar o Brasil sem considerar a igreja cristã, entram aí as próprias religiões, as influências em religiões de outras matrizes e as criações oriundas do sincretismo religioso. Um fenômeno de destaque nas últimas décadas é o aumento da população de protestantes, o peso político dessa população é quase que totalmente canalizado para o avanço de pautas conservadoras, mas canalizado por quem? "Conservador" já deixa claro que nenhuma dessas pautas é novidade para as minorias, ou seja, não foram os crentes que inventaram. Precisamos ter em mente alguns princípios realmente simples para não transformar a estigmatização em defesa.
Lideranças e base geralmente é uma relação assimétrica de poder;
Religiões são complexas e mutáveis;
Falando de pessoas: posicionamentos públicos nem sempre condizem com atitudes privadas, também não são produtos de um esclarecimento (ou obscurecimento) total em determinado campo;
Fiéis não são autômatos;
A moral dominante é conservadora, independente das categorias sociais, portanto, se a lógica é a exclusão, não haverá diálogo;
Crentes não são criaturas que atacam minorias, dão dízimo, oram, votam em neofascistas e pronto. Recebem salários miseráveis, vão visitar as suas crias no sistema carcerário, sofrem com o SUS, com o engarrafamento, com a criminalidade, não é verdade? Então esta condição de miséria coletiva também explica a agenda conservadora.
A igreja católica não é menos conservadora, as batinas ainda sacramentam a tradição, família e propriedade, o fato de serem menos histriônicas não as transformam em mais progressistas. Vale Salientar que vai de Opus Dei à Teologia da Libertação, de Casa Forte ao Morro da Conceição.
Não é por isso que deixo de desejar a derrocada de tudo que os Malafaias, Felicianos, Macedos, entre outros, representam.

Abaixo a gramática em favor da língua

Não há no mundo indivíduo que fale de acordo com sua gramática. Ah, juristas intocáveis! essa tal de gramática serve mediocrimente para passar em concursos, portanto ela é filtro. A gramática, ela explode na boca do povo, se desfaz e refaz na literatura. Viva os fonemas e as catarses das sílabas!. Não! não enfiarão goela abaixo pontos sílabas acentos e virgulas em nossas canetas. Escreveremos como falamos, como outro dia me disse ciço que foi na ca da irmã com sua moto cencinquenta que ele comprou por dor mil conto. Aqui celebraremos a fonética, os contextos e as regionalidades. A função da língua é a comunicação. A mensagem deve ser recebida e compreendida. Deve-se respeitar, então as regionalidades e conhecê-las. O nordeste consome literatura sulista e é coagido a não reclamar das questões literárias locais do sul. Portanto a gramática é poder, é questão hegemônica. A gramática é de cima pra baixo. Exemplo de poder na definição dos significados: - Não sei o que você quer dizer com "glória'- retorquiu Alice. Humpty Dumpty sorriu com o maior desprezo: - É claro que você não pode saber até que eu lhe explique. O que eu quis dizer foi: esta afirmação é realmente irretorquível. - Mas “glória” não significa o mesmo que “um argumento irretorquível” – objetou Alice. - Quando eu utilizo uma palavra - disse Humpty Dumpty, em um tom de grande sarcasmo -, ela significa exatamente o que quero que signifique, nem mais nem menos. - Mas a questão é – disse Alice – se você tem o direito de fazer as palavras significarem para você coisas diferentes do que elas querem dizer para as outras pessoas!... - A questão é – afirmou Humpty Dumpty – quem é que manda aqui. Só isso. Há os que fazem as normas e há os que devem entender, mesmo que o receptor fale de outro jeito. Neste caso o personagem Humpty Dumpty muda o sentido da palavra que ele fala ediz que a questão do significado é de ordem de poder. Dá o significado quem tem o poder. E é justamente isto que somos contra. O erro gramatical é motivo de chacota e preconceito e isto é uma forma de humilhação, coerção e desmotivação. Quantas pessoas não tem vergonha de falar a fonética do nordeste? Inúmeras. A gramática em si não existe. É um conjunto de regras e formas e padrões elitistas feitas por homens, aqui digo no sentido negativo do termo, no sentido patriarcal, de renome, homens sábios de poder. Ó grandes homens que não entendem o poder criativo espaçotemporal da língua do povo!. A renomada gramática dos concursos públicos é uma religião, uma efervescência coletiva que só existe no plano da idéia. Ela só existe quando objetificada na formam de língua e esta não segue nem requer suas regras quando o objetivo final da compreensão da mensagem é obtido. O que seria de neologistas tais Guimarães Rosa, Zé da Luz ou Waly Salomão se a gramática fosse implacável, mas ela não é. A língua do povo, esta sim é implacável e é com a língua falada e com as canetas que vamos derrubar a gramática dos menestéis. Reconhecemos que sem a gramática não poderíamos resgatar ou preservar certas línguas. Não propomos o apocalipse gramatical. Propomos a subversão do poder que coage aqueles que tem uma caneta em mãos. Propomos que a gramática limite-se ao seu campo. Ao campo da pesquisa e da preservação das línguas mortas como fonte de estudo dos troncos linguísticos. Porém na literatura, na poesia e na boca do povo ela serve de discordias. A gramática é semente do preconceito, da seleção e da exclusão. Viva o povo iventalínguas!