sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Quando cair o teu inimigo, não te alegres, pois, em instantes, aparecerá outro.


Cunha é um arrivista que atualmente protagoniza o congresso. No final das contas, sua prática não difere muito dos outros colegas da bancada conservadora, seja da bala, do estupro, do agronegócio, dos planos de saúde, do capital financeiro, da internação, ou do extrativismo, em diferentes partidos, situação e posição. Essas bancadas não são homogêneas, produzem diferentes interesses, no momento, Cunha faz um jogo insustentável, pois usa da presidência apenas para manter o cargo, provocando e confundindo o governo e os conservadores mais radicais. Isso desperta a desconfiança de ambos os lados, e esses malabarismos vão se aproximando do seu limite, deixando de enganarem as lideranças políticas e ludibriarem a multidão. Qual é o desejo do atual governo? Ter um congresso estável que receba sem ruído os cortes no orçamento, a flexibilização das normas que regem a relação entre o capital e o trabalho, ou entre o capital e os povos tradicionais, ou seja, a cartilha neoliberal. Cunha barganha com isso, não porque ele discorde, longe disso, mas ele sabe que dificultar as atividades do governo o torna mais poderoso. Qual é o desejo dos conservadores mais radicais? A deposição de Dilma, o fim do governo do PT e a tomada do executivo. Cunha barganha com isso, não porque ele discorde, longe disso, mas ele sabe que estar à frente desses interesses o torna mais poderoso. Daí começa a proliferar o número de inimigos dentro e fora do congresso. Como isso poderia refletir nos movimentos sociais? Na percepção de que o cerco está se fechando, pois essa batalha em torno de Cunha não traz ganhos para as minorias sociais, o poder dele advém justamente da mediação que ele faz entre os interesses conservadores. Quando a sua figura sair de cena, parecerá uma vitória da esquerda, mas será uma vitória dos carrascos mais comprometidos com as suas próprias ideias, e os projetos conservadores, atualmente na paternidade de Cunha, também vão encontrar outros pais mais comprometidos, mais crentes na ideologia perversa que os move. Vale salientar que o lastro desse projetos não é Cunha, são milhões de eleitores, milhares de políticos e centenas de instituições. Infelizmente muitos movimentos sociais se propõem novamente a defender um governo que os utiliza apenas como bucha de canhão, porque nem mesmo a bancada governista faz uma oposição explícita ao presidente do congresso, preferindo articular nos bastidores os seus movimentos de base para atacá-lo, ainda que, escutá-los seja um aborrecimento. Mas se a ideia do governo para a saída de Cunha é a estabilização do congresso para a receita neoliberal, que função estaria cumprindo os movimentos que estão na rua?  E depois que Cunha cair o que acontecerá? No momento, não parece importante. Como ficam os militantes? Tendem a repetir o mantra dos treze anos do PT: o governo não é homogêneo, existem setores, avanços, disputas, contradições... Fica a pergunta: o que é homogêneo na política? Nada. A questão é saber até quando o Executivo será o dirigente dos grandes movimentos sociais.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Seráfico


O sol vai se escondendo atrás de casarios antigos, formando um horizonte temporário por cima de bairros decadentes, arruinados justamente pela falta de horizonte tão habitual às grandes cidades. Estão salvas, em termos de enxergar um horizonte, as que ainda têm o mar. As populações que flutuam nesses bairros não acreditam mais em nada, além do capital, povoam temporariamente territórios que são úteis na medida em que guardam alguma troca vantajosa, em alguma ocasião, apesar do lixo, do fedor do lixo, do aspecto do lixo, das feições do lixo, do comportamento do lixo, que, para elas, são tanto coisas quanto pessoas, assim como as mercadorias são coisas, mas também podem ser pessoas, assim como as coisas que não têm valor, ainda que sejam pessoas, estão nesse momento deitadas em uma calçada, acompanhadas por um cachorro doente, tendo por horizonte uma miríade de lojas vazias, com letreiros coloridos e portas de ferro.