Cunha é um arrivista que atualmente protagoniza o congresso. No final das contas, sua prática
não difere muito dos outros colegas da bancada conservadora, seja da bala, do
estupro, do agronegócio, dos planos de saúde, do capital financeiro, da internação, ou do extrativismo, em diferentes partidos, situação e posição. Essas bancadas não são homogêneas, produzem diferentes
interesses, no momento, Cunha faz um jogo insustentável, pois usa da
presidência apenas para manter o cargo, provocando e confundindo o governo e os
conservadores mais radicais. Isso desperta a desconfiança de ambos os lados, e
esses malabarismos vão se aproximando do seu limite, deixando de enganarem as
lideranças políticas e ludibriarem a multidão. Qual é o desejo do atual governo?
Ter um congresso estável que receba sem ruído os cortes no orçamento, a
flexibilização das normas que regem a relação entre o capital e o trabalho, ou
entre o capital e os povos tradicionais, ou seja, a cartilha neoliberal. Cunha
barganha com isso, não porque ele discorde, longe disso, mas ele sabe que
dificultar as atividades do governo o torna mais poderoso. Qual é o desejo dos
conservadores mais radicais? A deposição de Dilma, o fim do governo do PT e a
tomada do executivo. Cunha barganha com isso, não porque ele discorde, longe disso,
mas ele sabe que estar à frente desses interesses o torna mais poderoso. Daí
começa a proliferar o número de inimigos dentro e fora do congresso. Como isso
poderia refletir nos movimentos sociais? Na percepção de que o cerco está se
fechando, pois essa batalha em torno de Cunha não traz ganhos para as minorias
sociais, o poder dele advém justamente da mediação que ele faz entre os
interesses conservadores. Quando a sua figura sair de cena, parecerá uma
vitória da esquerda, mas será uma vitória dos carrascos mais comprometidos com as suas próprias ideias, e os projetos conservadores, atualmente na paternidade de Cunha,
também vão encontrar outros pais mais comprometidos, mais crentes na ideologia
perversa que os move. Vale salientar que o lastro desse projetos não é Cunha, são milhões de eleitores, milhares de políticos e centenas de instituições. Infelizmente muitos movimentos sociais se propõem
novamente a defender um governo que os utiliza apenas como bucha de canhão,
porque nem mesmo a bancada governista faz uma oposição explícita ao presidente
do congresso, preferindo articular nos bastidores os seus movimentos de base para
atacá-lo, ainda que, escutá-los seja um aborrecimento. Mas se a ideia do governo para a saída de Cunha é a estabilização do
congresso para a receita neoliberal, que função estaria cumprindo os movimentos
que estão na rua? E depois que Cunha
cair o que acontecerá? No momento, não parece importante. Como ficam os
militantes? Tendem a repetir o mantra dos treze anos do PT: o governo não é homogêneo,
existem setores, avanços, disputas, contradições... Fica a pergunta: o que é
homogêneo na política? Nada. A questão é saber até quando o Executivo será o
dirigente dos grandes movimentos sociais.
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
Seráfico
O sol vai se escondendo atrás de casarios antigos, formando um horizonte temporário por cima de bairros decadentes, arruinados justamente pela falta de horizonte tão habitual às grandes cidades. Estão salvas, em termos de enxergar um horizonte, as que ainda têm o mar. As populações que flutuam nesses bairros não acreditam mais em nada, além do capital, povoam temporariamente territórios que são úteis na medida em que guardam alguma troca vantajosa, em alguma ocasião, apesar do lixo, do fedor do lixo, do aspecto do lixo, das feições do lixo, do comportamento do lixo, que, para elas, são tanto coisas quanto pessoas, assim como as mercadorias são coisas, mas também podem ser pessoas, assim como as coisas que não têm valor, ainda que sejam pessoas, estão nesse momento deitadas em uma calçada, acompanhadas por um cachorro doente, tendo por horizonte uma miríade de lojas vazias, com letreiros coloridos e portas de ferro.
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