De Chompski TernoeDuque,
A verdade absoluta e incontestável que absorvemos desde o jardim de infância que prega a superioridade do ser humano por tudo que construímos (destruímos) e por estarmos no topo da cadeia alimentar vai ser posta, agora neste texto, em dúvida e passível de contestação.
A suposta superioridade humana talvez seja explicada pelos
antropocêntricos egoístas baseada em explicações científicas que
provam a habilidade do nosso cérebro altamente desenvolvido realizar
tarefas complexas, pela capacidade de modificar a natureza e manusear
armas criadas para assassinatos brutais graças aos tão importantes
polegares opositores. Porém, nós do coletivo Gato Dirliptia,
colocamos esta certeza secular na berlinda fazendo apologia à
barata, aquele inseto asqueroso e repulsivo que vive nos bueiros e
nos esgotos, no subterrâneo inóspito, e assustam senhoras e
senhores de classe em suas salas de jantar.
A unidade de medida que coloca o ser humano no alto posto da
superioridade das espécies é medida pela capacidade de assassinato
que possui e que é visível nas sangrias dos mercados.
Entretanto, contradizendo a certeza, nós abordamos que a
superioridade é medida pela resistência à morte, adaptabilidade e,
consequentemente, perpetuação da espécie. É certo que o homem
(ser) é a espécie mais homicida do planeta e que tem facilidade na
prática da subjugação das outras espécies. Porém homicídios e
exploração nunca foram qualidades positivas
A barata é extraordinariamente adaptável a qualquer ambiente e
nestes pontos básicos (resistência à morte, adaptabilidade e
perpetuação da espécie) ela reina. Estes insetos repulsivos podem
viver uma semana sem beber água e um mês sem se alimentar; suas
habilidades para a sobrevivência são inúmeras. As baratas pouco
tiveram variações morfológicas por serem seres de alta capacidade
de adaptação às mudanças ambientais, são praticamente idênticas
às suas ancestrais. Conseguem resistir ao sistema urbano através de
uma série de hábitos que as protegem da hostilidade do homem
moderno e seu habitat natural, a cidade. Aproveitam as horas que
menos circulam seus principais assassinos, sapatos lustrosos e
chinelas sujas enquanto que no período diurno descansam cerca de 75%
aproveitando o dia, a luz, a sujeira, as pernas das matronas e as
bocas dos beberrões. As baratas urbanas são mais aptas às
metrópoles que nós que a criamos.Mas o que mais surpreende é a resistência vinte vezes mais potente
à radiação que o homem, seu próprio criador e superior o bastante
para aniquilar a sua mesma espécie e crenças diferentes. Não nos
matamos por alimento, por superpopulação ou por ausência de
território, nos matamos por dinheiro, invenção superior nossa, por
crenças, nos matamos pela desigualdade que estamos imersos. Nós nos
exploramos. Corte a cabeça de um humano e antes dela cair no chão
este mesmo humano, bípede, polegar opositor, crença, cérebro e
língua já estará morto. Uma barata se tem sua cabeça cortada
consegue lutar contra sua morte inerente durante cinco dias, não é
à toa que consiga coexistir no mesmo ambiente que o humano e existir
em lugares hostis ao ser superior criador das universidades cheias de
antropocentrismos de ismos. Nós fundamos o baratocentrismo! Fazemos
apologia à barata. O poder da existência da barata ultrapassa
ambientes hostis e nocivos ao homem. A barata descansa 75% do seu dia
enquanto o homem levanta às 6 da manhã veste terno, pega ônibus,
enfrenta trânsito, leva porrada da polícia, sua, vende cachorro
quente, morre de bala perdida, se estressa, trabalha, tem seu tempo
roubado, vai à igreja. A barata vive pra vida, o homem pro trabalho,
pra exploração. Elas conseguem produzir seu trabalho em menos tempo
e, não bastando, seus frutos duram por períodos muito mais longos.
Não há revolução industrial que consiga resolver este nosso
problema, não há revolução industrial que pare de roubar o nosso
tempo.
É claro que as baratas são categorizadas pragas urbanas, estes
insetinhos peludinhos são nossos rivais na guerra das espécies, são
uma ameaça à humanidade, elas sobem em nossas paredes e nos fazem
ter sonhos horríveis. Sendo nossa inimiga ela sobrevive no
subterrâneo, nos bueiros e nós córregos das capitais de consumo se
alimentando do nosso consumo, do nosso lixo, do que nós achamos que
é lixo, do que nós não queremos. As senhoras e senhores de classe
odeiam as baratas, no entanto, parecem não terem problemas em
alimentá-las.
Sejamos pragas!