segunda-feira, 27 de abril de 2015

Por Noiada, 

Hoje eu tava no ônibus, e comecei a pensar na conjuntura política do Brasil e catástrofes afins. Daí, de repente, me veio uma frase que antes seria inadmissível de tão clichê: "que país é esse??!". Me veio também um rascunho da pérola "Acorda, Brasil!", mas contive meus pensamentos antes que eles chegassem em "O gigante precisa acordar". Fiquei surpresa e aflita com esse processo mental porque: 1- não costumo encontrar significado em expressões que gente idiota já conseguiu esvaziar de sentido; 2- passei a procurar por aquilo que me levou a preencher de sentido frases quaisquer de tão generalizantes.
É muito triste saber que a frustração é tamanha que se molda a qualquer grito que se pretende revolta. É como se a realidade extrapolasse a fôrma e a forma. Chegou um ponto em mim que não importa se Renato Russo é jegue, se a propaganda da Johnnie Walker é bizarra e foi apropriada de maneira ainda mais bizarra: o que importa é essa sensação de falibilidade, essa sensação de não saber mais onde colocar tanta frustração. Eu fico me crescendo numa cegueira odiosa, ou mais: num ódio cego. Acho que, depois de concluído o download do Novo Recife, da política de "pacificação" do governo federal, da terceirização e da redução da maioridade, vou me tornar um verme abusado, repetindo repetidas repetições, tal como: meu ódio é o melhor de mim.
Uma pessoa importante costuma me dizer que onde não há jardim, as flores nascem de um secreto investimento em formas improváveis. Poderia, por agora, pensar nisso como uma esperança mínima. Mas como é triste apostar naquilo que sabemos improvável. Um atestado de nossa fraqueza inerte. O que resta fazer senão por fogo em tudo, inclusive em mim? O que resta fazer senão extrapolar a estrutura e a metáfora, tornando real o ódio que cresce, por amor, na gente?